Por Mauro Brito
Evitei ao máximo, abordar este
tema de fundo, que dia após dia e levantado quando se acha que vale a pena,
mesmo que não seja para dizer algo, mas não pôde até ao
momento que o confrade meu atiçou-me para o efeito, vá escreva sim, e depois?
Deixe de histórias, meu caro, não esperes que alguém te condecore ou te
consagre, isso não existe, tens de ser tu a escrever. Não ouvir mais desculpas,
assim me entreguei nessa labuta de falar sobre a produção literária em Moçambique.
Digo, ainda me receio sobre isto meus amigos, sob todos os riscos aqui me atiro
aos leões famintos. A questão se de facto existe uma produção literária no
verdadeiro sentido tem pairado em muitas mesas, debates e, em fim. Mas os
debates não chegam, as mesas não bastam, e depois do discurso, há curso? E os
que realmente movimentam a máquina por onde andam? “Entre mortos e vivos haverá
feridos”. Nisto o Movimento Literário Kuphaluxa, tem organizado Mesas literárias
(Semana literária) onde essa problemática é despida e atribuída vários
adjectivos e advérbios, de modo que se perceba a raiz do problema. Mas Antes
tomemos fôlego nessa questão, há muitas vozes que nos rodeiam, como uma mão
invisível, a instruir-nos. Sépticos, críticos, etc, partilham da mesma questão
que eu, (não há produção literária como tal), ainda que dezenas de livros sejam
produzidos e publicados anualmente, rabiscos voam e a tinta acaba, não abafa
esta questão. O que se passa ai, alguém me ouve desse lado?Continuo nessa linha
já traçada por muitos outros autores. Para que haja produção literária, deve
antes sim haver uma base, um alicerce, uma base sólida onde se possa assentar a
produção para haver produção e consumo, falo especificamente de um sistema
puro, organizado e coordenado de produção literária, falo desde o simples aluno
que se senta na carteira que aprender a ler, pensar e a escrever, até o leitor,
escritor e livros e por final as palestras e dissertações sobre as obras, e de
volta ao ciclo criativo (leitor-escritor). Isto é apenas uma miragem no
deserto, não deixo de congratular e de ficar extremamente feliz de ver sangue
novo, seiva da nação a ler-ler-ler, escrever, publicar, e também algumas
editoras que ainda dão algum crédito a tudo novo a muito custo. Bem partimos
desse ponto, tudo é feito duma forma individual e egoísta, no sentido do Eu sair a ganhar, não como
colectividade, todos em um e um em todos, para o bem de todos, tudo pelo
cifrão. As editoras tem como ponte de escape os negócios de edição, muito bem,
e o pacato escritor, que sem a sua obra, sem a uma mensagem transmitida fica reduzido,
(escritor = aquele que escreve e publica), onde iremos parar assim? A produção
nasce de trabalho conjunto e coordenado. O embrião é uma produção, pois parte
de uma simples e perfeita união do espermatozóide e do óvulo, assim sendo, como
irão produzir literatura sem esses cruzamentos. O que vemos são esporádicas
produções e publicações, onde tudo é feito aos arranjos, emendas. Se
questionarmos quantas obras literárias são produzidas anualmente, os números
não nos mentem, em torno de 35 a 35 obras ou pouco mais, apenas números, e
quantos leitores novos são conquistados? Estaremos a procurar agulha no
palheiro, visto que pouco se produz, consequentemente pouco haverá para se consumir.
Essas questões inquietam a qualquer um amante da arte das letras. E o escritor
a ir as editoras ou o contrário, se Maomé não vai a montanha, a montanha ira a
Maomé, tudo por conta própria. Se olharmos por outro lado podemos encontrar
parcas justificações para essa pobre deficitária produção, uma vez havendo
poucos leitores (comedores de livros), ade-se pensar que não há que gastar munições,
produzir tanto porque, se não há quem irá fazer uso? Então fica-se na sombra.
Estamos sempre habituados a culpar sempre os outros, os eles, esses fora de nós
que sempre cometem delitos, o Eu está fora de questão, nos isentamos sempre
disso, e nós? Se os outros (os gajos) têm culpa, qual a nossa posição? Matamos
assim chances de mudamos o curso dos
acontecimentos e veremos o Titanic, ainda que não seja, a naufragar lentamente
para o gaudio dos piratas. Hoje assistimos impávidos, em conluio com os que
oficialmente tem a responsabilidade de mudar o curso das águas que por aqui
correm. A associação de escritores, o Ministerio de Educacao, os livreiros, as
editoras, os leitores, os escribas, onde cada um tem seu papel? Esse filme que
não queremos ser personagens, apenas aplaudimos a qualquer cena apresentada.
Adiando assim momentos de grande glória e orgulho que antes tivéramos nesta
terra madrasta. Não me ocorrendo nada mais, me aguardo para possíveis
comentários e orgasmos, mesmo sem haver causas e efeitos.
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