7 de dez. de 2012

Presságio: super original, homie


Por Tirso Sitoe



Explorando a cidade de Maputo, sob canais díspares de informações, aterrando de blocos em blocos, becos e avenidas, do rés-do-chão até aos mais elevados patamares sobre a questão social e cultural juvenil, num sistema de better - como os MC´s comumumente chamam no circuito do RAP game - a entrevista foi concedida por Presságio.

- Quem é PRESSÁGIO?
PRESSÁGIO - É um simples rapper, que nasceu e cresceu na cidade de Maputo com os seus objectivos e próprios projectos no RAP MOZ. Formei o meu primeiro grupo em 2000 junto a um amigo e rapper VÍRUS DA PAZ. O grupo chamava-se LYRICAL SQUAD e na altura eu usava como AKA o nome, KILLJOY que traduzindo de inglês para português significa “Desmancha-Prazeres” (era assim que as meninas da zona me chamavam). Como dupla, eu e o VÍRUS DA PAZ, tínhamos o sonho de ser RED & METHOD MAN de MOZ.

- Quando se inicia a sua ligação com o RAP?
PRESSÁGIO - Comecei a ouvir o RAP já há muito tempo. E isso foi nos tempos de KRISS KROSS, mas, só me interessei de verdade em 1997, quando conheci um amigo de nome Marcelo, pois, naquele tempo ele já fazia RAP. Foi quando comecei a fazer também alguns versos. Lembro-me que um tempo depois, meu pai ofereceu-me uma fita cassete de um grupo português denominado BLACK COMPANY, referência na altura. Isso começou a ditar os meus primeiros passos.

- Que aspectos, foram relevantes na formação de PRESSÁGIO como o individuo ligado as artes de rua?
PRESSÁGIO - Somente o simples facto de fazer parte do RAP pra mim já é uma vitória. Isso porque apreende mais e queres estar sempre informado. Estas sempre na internet, sem contar com as amizades que fiz graças ao RAP. Então eu agradeço o RAP pelo nigger que hoje sou.

- Fale do processo de produção de suas letras. Onde e como escreve suas letras e o que aborda em seus temas musicais?
PRESSÁGIO - Eu falo de quase tudo. Dificilmente falo de política. Eu, não tenho nada contra, contando que eles me deixem em paz (risos). Para escrever eu só preciso dum bom beat, imaginação, silêncio e realidade. Não sou o tipo de nigger que viaja com cenas de um mundo distante do meu... Dats wassup.

- Como foi o processo de gravação da música com participação de FLASH ENCICLOPÉDIA, de título “Clássicos”?
PRESSÁGIO - Eu e o Flash já tinhamos um plano de fazermos algo juntos. Falei com o produtor FINGAZ MASTER, o qual preparou três beats; Eu dei o título e o FLASH escolheu um dos três beats. Escrevemos e marcamos a gravação (nem chegamos a ensaiar). Graças a Deus o people recebeu muito bem o som e até hoje nos parabenizam pelo song. Contudo digo, foi uma grande experiência em estar ao lado de um MC do gabarito de Flash, assim, como foi para ele.

- Podemos considerar a colaboração entre LASH ENCICLOPÉDIA e Presságio como uma forma de reafirmação no circuito de RAP MOZ?
PRESSÁGIO – Epah! Nós só fizemos uma música como qualquer outra e tivemos a sorte das pessoas receberem o som com satisfação. Qualquer som que se grava tem esse objectivo: fazer as pessoas te ouvirem e perceberem o teu ponto de vista ou mensagem que queres levar a elas.

- Ao se ouvir a música “O prazer é meu” percebe-se que é apresentação da sua própria pessoa. Tomando como ponto de partida os anos de carreira musical, não acha desnecessário fazer apresentações?
PRESSÁGIO – Não, não acho.  Tenho o meu time no RAP, mas acredito que grande parte das pessoas não sabe quem eu sou, excepto algumas que já me conheciam, no entanto, com o nome de KILLJOY. Então, acho que é preciso apresentações antes de qualquer papo com os outros. É preciso que as pessoas saibam quem és, de onde vens e quais são os teus objectivos se quiseres ser bem-vindo em qualquer comunidade, Word up.

 - Qual é o seu público-alvo nas músicas?
PRESSÁGIO - Everybody. Eu escrevo para todos, por isso eu digo para as pessoas que sou simples e objectivo, tipo um texto expositivo explicativo (risos). Apanhou as rimas?

- Considera Grupos como RAPPER UNIT, IRMANDADE, entre outros como seus mentores na música RAP?
PRESSÁGIO – Yeah! Podemos dizer que sim e dificilmente encontrarás pessoas que vão te dizer o contrário.

- Identifica-se com que estilo de RAP? Qual a sua posição no debate underground and bounce?
PRESSÁGIO - (Risos) Esse é um fight que para mim não faz sentido. Eu prefiro voltar a dizer que sou apenas um rapper. Como digo numa das minhas músicas: "Nunca fui, eu sou um rapper 100% e ao mesmo tempo, batalho pelo movimento”.


- Ser um real MC seria aquele que veste as roupas largas todos dias?
PRESSÁGIO - Ser real MC não tem nada a ver com roupas. Para mim tem a ver com o que se transmites às pessoas com a forma como vemos o mundo.

- Presságio, longos anos de carreira. Quantos vídeos, álbuns ou singles?
PRESSÁGIO - Hish Yowé...Dois vídeos, dezenas de sons gravados, uma mix-tape por sair (com Eddy MC na produção das doze faixas) e vai se chamar "Sem do nem PIEDDYADE”. Meu álbum também fica para o próximo ano com o título “Asas para Imaginação”.

- Em toda sua carreira qual a música que melhor te apresenta?
PRESSÁGIO - Todas elas. O que acredito que não estar bem, nem sequer sai do quarto, vai logo para o lixo.

- Vale a pena fazer RAP em Moçambique?
PRESSÁGIO - Sempre vale a pena quando gostas do que fazes e quando tens objectivos que não põem a mola atrás do RAP.

- Fora a música, quais outras actividades exerce?
PRESSÁGIO - Sou editor de vídeo numa TV local; tenho meus ways como todo o jovem de Moz.

- Encara o RAP como estilo de vida?
PRESSÁGIO - Acho que em certo tempo foi um estilo de vida, hoje, acho que não mais. Agora tudo é business.

- Quais são seus ídolos na música?
PRESSÁGIO - Yeh, man! Demorou a fazer essa pergunta (risos). Lá fora gramo do REDMAN, PHONTE (FROM LITTLE BROTHAS), SEAN PRICE (FROM HELTAH SKELTAH), COMMON e outros. Em Maputo, gramo do SHAKAL, A SMALL, ARMADUH e agora estou a curtir muito dos versos de TRIGGAH.

- Como encara a cultura hip-hop hoje, fazendo uma ponte com o seu passado?
PRESSÁGIO - Acho que melhorou em alguns aspectos, já temos muitas portas abertas para expor o que fazemos (falo de rádios e TVs), só precisamos trabalhar mais e fazer mais vídeos, afinal é isso que vende a nossa imagem.

- “Pressagio o nómada” podemos assim considerá-lo? Fale-me das experiências que colheu em comunidades como Block4, Fundação, Irmandade, entre outras.
PRESSÁGIO - Nómadas são pessoas sem lugar fixo. Então, isso não sou, tenho os pés firmes e assentes na terra, eu sei o que quero e para onde quero ir...Capitou? Quanto a experiência, acho que o RAP fez muito por mim, foi bom conhecer essas comunidades porque em algum ponto temos os mesmos objectivos, o melhor para RAP MOZ.

- Quais os planos futuros?
PRESSÁGIO - Ser reconhecido como um bom MC, e não como um "punk ass" emocionado que nem sabe o que quer (risos), gravar mais sons e vídeos, mostrar ao people que esta fora de MOZ como se faz RAP aqui, for real dog.

- Que lição deixa para os que lhe seguem?
PRESSÁGIO - Seja original, porque Presságio é super original, homie.

3 comentários:

  1. Para alem de MC'S usarem a musica como o mensageiro de seus sentimentos e para intervirem
    socialmente eu acho que as intervenções de perguntas e respostas Directas como a block 4 fez ao Mc PRESSAGIO é de louvar, dá a oportunidade dos admiradores conhecerem um pouco mais o outro lado dos mcs.

    FORÇA BLOCK4
    Por: Psykahollik

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