29 de mar. de 2013

Panelas vazias ou quase nada, numa lenha sem nada para arder


Por Mauro Brito

Evitei ao máximo, abordar este tema de fundo, que dia após dia e levantado quando se acha que vale a pena, mesmo que não seja para dizer algo, mas não pôde até ao momento que o confrade meu atiçou-me para o efeito, vá escreva sim, e depois? Deixe de histórias, meu caro, não esperes que alguém te condecore ou te consagre, isso não existe, tens de ser tu a escrever. Não ouvir mais desculpas, assim me entreguei nessa labuta de falar sobre a produção literária em Moçambique. Digo, ainda me receio sobre isto meus amigos, sob todos os riscos aqui me atiro aos leões famintos. A questão se de facto existe uma produção literária no verdadeiro sentido tem pairado em muitas mesas, debates e, em fim. Mas os debates não chegam, as mesas não bastam, e depois do discurso, há curso? E os que realmente movimentam a máquina por onde andam? “Entre mortos e vivos haverá feridos”. Nisto o Movimento Literário Kuphaluxa, tem organizado Mesas literárias (Semana literária) onde essa problemática é despida e atribuída vários adjectivos e advérbios, de modo que se perceba a raiz do problema. Mas Antes tomemos fôlego nessa questão, há muitas vozes que nos rodeiam, como uma mão invisível, a instruir-nos. Sépticos, críticos, etc, partilham da mesma questão que eu, (não há produção literária como tal), ainda que dezenas de livros sejam produzidos e publicados anualmente, rabiscos voam e a tinta acaba, não abafa esta questão. O que se passa ai, alguém me ouve desse lado?Continuo nessa linha já traçada por muitos outros autores. Para que haja produção literária, deve antes sim haver uma base, um alicerce, uma base sólida onde se possa assentar a produção para haver produção e consumo, falo especificamente de um sistema puro, organizado e coordenado de produção literária, falo desde o simples aluno que se senta na carteira que aprender a ler, pensar e a escrever, até o leitor, escritor e livros e por final as palestras e dissertações sobre as obras, e de volta ao ciclo criativo (leitor-escritor). Isto é apenas uma miragem no deserto, não deixo de congratular e de ficar extremamente feliz de ver sangue novo, seiva da nação a ler-ler-ler, escrever, publicar, e também algumas editoras que ainda dão algum crédito a tudo novo a muito custo. Bem partimos desse ponto, tudo é feito duma forma individual e egoísta, no sentido do Eu sair a ganhar, não como colectividade, todos em um e um em todos, para o bem de todos, tudo pelo cifrão. As editoras tem como ponte de escape os negócios de edição, muito bem, e o pacato escritor, que sem a sua obra, sem a uma mensagem transmitida fica reduzido, (escritor = aquele que escreve e publica), onde iremos parar assim? A produção nasce de trabalho conjunto e coordenado. O embrião é uma produção, pois parte de uma simples e perfeita união do espermatozóide e do óvulo, assim sendo, como irão produzir literatura sem esses cruzamentos. O que vemos são esporádicas produções e publicações, onde tudo é feito aos arranjos, emendas. Se questionarmos quantas obras literárias são produzidas anualmente, os números não nos mentem, em torno de 35 a 35 obras ou pouco mais, apenas números, e quantos leitores novos são conquistados? Estaremos a procurar agulha no palheiro, visto que pouco se produz, consequentemente pouco haverá para se consumir. Essas questões inquietam a qualquer um amante da arte das letras. E o escritor a ir as editoras ou o contrário, se Maomé não vai a montanha, a montanha ira a Maomé, tudo por conta própria. Se olharmos por outro lado podemos encontrar parcas justificações para essa pobre deficitária produção, uma vez havendo poucos leitores (comedores de livros), ade-se pensar que não há que gastar munições, produzir tanto porque, se não há quem irá fazer uso? Então fica-se na sombra. Estamos sempre habituados a culpar sempre os outros, os eles, esses fora de nós que sempre cometem delitos, o Eu está fora de questão, nos isentamos sempre disso, e nós? Se os outros (os gajos) têm culpa, qual a nossa posição? Matamos assim chances de mudamos o curso dos acontecimentos e veremos o Titanic, ainda que não seja, a naufragar lentamente para o gaudio dos piratas. Hoje assistimos impávidos, em conluio com os que oficialmente tem a responsabilidade de mudar o curso das águas que por aqui correm. A associação de escritores, o Ministerio de Educacao, os livreiros, as editoras, os leitores, os escribas, onde cada um tem seu papel? Esse filme que não queremos ser personagens, apenas aplaudimos a qualquer cena apresentada. Adiando assim momentos de grande glória e orgulho que antes tivéramos nesta terra madrasta. Não me ocorrendo nada mais, me aguardo para possíveis comentários e orgasmos, mesmo sem haver causas e efeitos.

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